domingo, setembro 23, 2007

O Designer e O Diretor de Arte


*Design é uma palavra inglesa que significa projeto. Grosso modo, criar algum objeto, projetar sua funcionalidade, sua utilidade, e dar a esse objeto uma forma para que ele faça parte da sociedade, especialmente a de consumo, é fazer design. Esse design pouco tem em comum com o trabalho do Diretor de Arte como o conhecemos. O design está em tudo. Qualquer coisa tridimensional tem design - não importa se bonito ou feio. Carros eletrodomésticos, aviões, barcos, máquinas, produtos móveis, computadores, brinquedos, roupas e tantos outros representam a história do design. É a fotografia do mundo em todas as suas cores e formas. Presente, passado e futuro.

Embora seja possível dizer que quem faz design também faz arte, o Diretor de Arte não participa diretamente dos processos do design, a não ser que ele tenha como opção tornar-se designer industrial. Mas não vamos falar de design industrial, o que seria muito mais complexo que essas poucas linhas e que, no fim das contas, para o Diretor de Arte pouco acrescentaria. O que faz parte do dia-dia do Diretor de Arte é, isso sim, o design gráfico. Mas o que é design gráfico?

Quando se cria um projeto gráfico onde todo um conjunto de elementos estão combinados e tratados de maneira que fiquem bem distribuídos e tenham sentido, se está fazendo design gráfico. Diagramação, fotos, ilustrações, tipografias e efeitos computadorizados fazem parte da elaboração desse projeto. Criar num espaço bidimensional - nesse caso o papel ou a tela do computador - e dar sentido aos elementos que vão ocupar esse espaço é fazer design gráfico.

Trabalho que, via de regra, é desenvolvido pelo profissional chamado designer gráfico. Aí é que está a “pequena confusão”. O designer gráfico cria logotipos, embalagens, projetos editoriais - capas de livros, revistas -, programação visual - envelope, papel-carta, cartão -, manual de identidade visual, folhetos, cartazes, páginas para a internet e mais uma série de materiais gráficos que não são campanhas publicitárias. Mas o Diretor de Arte também faz tudo isso. Por que, afinal, separar Diretor de Arte de designer? O designer gráfico é, antes de tudo, um Diretor de Arte. Ponto. O único senão é que a sua especialidade não é campanha publicitária. E qual o problema? Médicos são médicos sempre. Especializam-se em suas áreas mas são médicos. Só pra você entender melhor: David Carson - um dos monstros do design gráfico moderno e que deu cara nova à revista Trip aqui no Brasil - foi considerado um dos melhores Diretores de Arte do mundo.

Temos, portanto, o seguinte quadro: design industrial pouco ligação tem com o dia-a-dia do Diretor de Arte. Design gráfico tem toda ligação. Não é apenas um complemento, mas é grande parte do trabalho. Os dois profissionais, Diretor de Arte e designer gráfico, precisam entender as mesmas coisas sobre criação quando se trata de peças gráficas. Desenvolvem peças semelhantes ou até idênticas. Conhecem diagramação, layout, tipografia, fotografia e grande parte de tudo o que você já leu até agora.
* texto baseado no livro Direção de Arte em Propaganda

sábado, setembro 22, 2007

Não existe webdesigner

Existe o designer que faz web.
Sobre esta discussão, Alexandre Wollner*, um dos mais importantes designers gráficos do país, é taxativo. Ele diz que “o web design é um fragmento do design. Não existe web designer. Existe o designer que faz web e este profissional tem que aprender tudo, tipografia, fotografia, semiótica, gestalt, matemática, ótica, percepção, comportamento humano, etc. Senão, ele não consegue fazer web”.

Toda afirmação taxativa deve ser analisada de acordo com o seu contexto, levando-se em conta quem disse e porque disse. Nesse sentido, devemos ler esta afirmação de Wollner levando em conta sua formação acadêmica e sua luta pelo design no Brasil. A formação de Alexandre Wollner vem de uma escola de design com inclinação científica, a Escola Superior da Forma de Ulm, que foi a precursora do primeiro curso de design no Brasil (Escola Superior de Desenho Industrial - Esdi, no Rio de Janeiro).

Analisando mais a fundo a afirmação, observa-se que um designer que faz web precisa (lendo nas entrelinhas do discurso de Wollner) de um processo criativo bastante aguçado. E onde começa este processo criativo? Com certeza começa no momento em que você decide que quer ser um designer. A partir deste momento, tudo que você olhar, sentir ou fizer irá alimentar a sua “inteligência visual” e contribuir para que você se torne um verdadeiro designer.

Mas não para por aí. O que Wollner diz também é que apenas alimentar nossos sentidos com informações visuais não é suficiente.

Para entender mais esta questão, pense no seguinte: um design bem feito parece sempre ser muito simples, parece inclusive ter sido feito sem esforço algum. Esta sensação é, sem dúvida, um dos propósitos do design. Quando nós encontramos um design assim, que nos inspira, queremos poder fazer algo tão bom quanto ou melhor do que o que estamos vendo. E por parecer tão simples, temos certeza absoluta de que somos capazes de fazer algo assim também.

Mas no momento em que partimos para a prática, notamos que tudo é muito mais difícil do que parecia à princípio.
Isto acontece porque design não é feito simplesmente de estética e emoção. Esses são apenas alguns elementos da função do design. Existem muitos outros elementos no processo de criação do design, como o mercado, o produto em si, a usabilidade e o ambiente onde este design vai existir. Existe uma necessidade de se atualizar a relação da tecnologia com os designers para além da expressão artística. O termo design se relaciona não só com a criatividade, mas também com a tecnologia, com o significado, com a linguagem.

Daí a necessidade de uma formação mais sólida por parte dos designers (inclusive aqueles que fazem web), uma formação que seja capaz de “traduzir” as informações visuais que nos bombardeiam constantemente em elementos que possam gerar uma inteligência visual. Esta formação não deve ser entendida como uma amarra à nossa criatividade, muito pelo contrário. É ela que vai propiciar o surgimento de um profissional muito mais seguro na hora de expressar sua criatividade.

* Alexandre Wollner (1928 - ) começou seus estudos no Instituto de Arte Contemporânea criado por Pietro Maria Bardi no Masp. Esta passagem pelo IAC propiciou-lhe uma vaga na Escola Superior da Forma de Ulm, Alemanha. De volta ao Brasil, participou da criação da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro. É autor de célebres logomarcas, como a da Klabin, da Santista, da Eucatex e do Itaú. [Webinsider]